Parecer foi apresentado nesta quinta pelo relator do projeto na
Câmara.
Mesmo sem acordo com governo, votação está marcada para terça
(24).
O relator do projeto de reforma do Código Florestal, deputado Paulo Piau
(PMDB-MG), apresentou nesta quinta-feira (19) seu parecer sobre o projeto, com
votação marcada para a próxima terça (24) no plenário da Câmara. Ele retirou do
texto aprovado no Senado percentuais mínimos de recuperação das áreas de
preservação permanente (APPs) desmatadas nas margens de rios localizados dentro
de propriedades rurais.
A versão aprovada no Senado estabelecia que, para cursos d'água com até 10
metros de largura, os produtores deveriam recompor 15 metros de vegetação
nativa. Para os rios com leitos superiores a 10 metros, a faixa de mata ciliar a
ser recomposta deveria ter entre 30 e 100 metros de largura.
O texto finalizado por Piau diz que a recomposição dependerá de novo projeto
de lei ou medida provisória, e incluiria a participação dos estados. A definição
seria feita em até dois anos, dentro do Programa de Regularização Ambiental
(PRA). As regras gerais deste programa seriam estabelecidas pelo governo federal
em até 180 dias após a aprovação da lei, mas as condições específicas ficariam a
cargo dos estados.
"Caberá ao Poder Executivo, na definição dos critérios e parâmetros que
nortearão o Programa de Regularização Ambiental, a fixação dessas faixas de
proteção considerando as particularidades ambientais, sociais e econômicas de
cada região", diz o relatório.
A mudança feita no relatório se aplica apenas às regras para quem precisar
reflorestar as áreas de beira de rio, e que tenham sido desmatadas até julho de
2008. A recomposição é uma possibilidade de anistiar as multas aplicadas aos
produtores que desmataram as APPs.
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff suspendeu as multas por mais
dois meses. O projeto do novo Código Florestal estabelece que, após a sanção e
posterior definição das regras para as APPs, os produtores assinem termo para a
recomposição. Caso não reponham a vegetação num determinado prazo, deverão pagar
multa. As multas ficam suspensas a partir do momento da sanção.
Já para as propriedades que não tenham que realizar a recomposição, por
manterem a mata nativa, por exemplo, ficaram mantidos o mínimo de 30 metros e o
máximo de 100 metros como tamanhos para as faixas de preservação, variando de
acordo com a largura do rio.
Mudanças
O texto apresentado por Piau contraria a versão
aprovada no Senado, que estabelecia regras fixas para a recomposição. O relator
alegou a impossibilidade regimental de alterar os percentuais, já que após a
aprovação do Senado, só é possível retirar um determinado artigo ou recuperar a
redação dada pela Câmara.
"A regra geral de Brasília para o Brasil inteiro não me parece uma medida
inteligente. Os grandes produtores vão cumprir o que veio do Senado, porque o
grande produtor não tem problema, ele não vai ser expulso, mas o pequeno e o
médio, estes sim, têm que ser adaptadas as faixas sob pena de expulsarmos os
produtores do campo", afirmou Piau.
Ele citou como exemplo pequenas propriedades do interior do Nordeste em que,
dadas as regras previstas pelo Senado, a impossibilidade do plantio em beiras de
rios poderia inviabilizar o uso de até 40% do solo.
Piau também excluiu do texto os artigos do projeto aprovado pelo Senado que
regulamentavam as áreas de criação de camarões, os chamados apicuns, que
considerou excessivamente detalhados. Apenas partes dos artigos que tratavam do
uso restrito de solo foram mantidas, deixando claro que as criações dependem do
zoneamento ecológico e econômico da zona costeira.
Também foi retirado o artigo que exigia a adesão de produtores ao Cadastro
Ambiental Rural (CAR) em até cinco anos para o acesso ao crédito agrícola.
Segundo o relator, o cadastro depende do governo, o que poderia prejudicar os
produtores. "O governo faz uma legislação que ele mesmo não tem o aparato
técnico para atender aos produtores rurais do Brasil inteiro", afirmou.
'Debate campal'
O relator admitiu que não tem apoio do
governo ao relatório, apesar das negociações das últimas semanas. Segundo ele, a
posição de apoio ao texto que foi aprovado no Senado foi mantida pelo Palácio do
Planalto, e a decisão ficará mesmo para o embate no plenário da Câmara.
"Não tem jeito, esta matéria é polêmica. Este projeto não vai agradar os
radicais ambientalistas nem os radicais produtivistas, não tem jeito de chegar a
um acordo. Chegamos a uma convergência máxima, à convergência possível. Vai ter
debate campal", afirmou.
Ao todo foram feitas 21 mudanças no substitutivo aprovado pelo Senado no ano
passado. Muitas foram apenas correções de redação e exclusão de artigos
repetidos. Outras, trataram de pontos importantes para produtores rurais e
ambientalistas.
Mesmo sem acordo, a votação está mantida na próxima
terça-feira. A garantia foi dada pelo presidente da Câmara, Marco Maia, que se
comprometeu pela votação com os líderes partidários. Na quarta-feira (18), a
Comissão de Meio Ambiente da Câmara aprovou um pedido de que a votação fosse
adiada.
"Esta possibilidade de adiamento não existe. Nós vamos votar o Código
Florestal e vamos fazer um belo debate", afirmou o presidente da casa. Para
Marco Maia, a falta de acordo não impedirá a votação. "O plenário é constituído
para votar, para dirimir as dúvidas. Quando não se tem acordo, vota-se no
plenário e vence aquele que conseguir convencer um número maior de parlamentares
sobre seu projeto", afirmou Maia.
FONTE-G1